Fazes-me falta

Hoje, em trabalho, fui a um pequeno evento mas espectacular por demais. Consiste na reunião de pessoas de idade, que pertencem ao clube sénior cá do sítio e que se juntam numa iniciativa da Biblioteca local chamada "Fazes-me Falta...". Neste encontro os presentes partilham histórias: cantigas, poemas, lendas, lengalengas, o que lhes apetecer. Ali estava eu a ouvir isto daqui, aquilo dali e vejo uma cadeira vazia. Sento-me. Fico ao lado de uma senhora da terra dos meus avós paternos, a Ti' Mariana. Lá na aldeia a minha família é conhecida pelos "Poetas". Cumprimento-a, pergunta-me pelo meu pai, fala da morte do meu tio e às tantas diz:
- "Então não cantas nada? Não sais à tua avó?". Rio-me e digo que não, cantar é que não. Ela diz que a minha avó tinha muito jeito, ao que a senhora do outro lado acrescenta "ela tinha jeito para tudo..." Às tantas a Ti' Mariana disse que uma vez, no terreiro do ti' Raul, que era um terreno junto à taberna do mesmo e onde se juntavam para fazer bailes e afins, a minha avó estava numa desgarrada com o Capador de umas aldeias acima. Sabem como é? Cantavam uma quadra cada um, inventada, e tentavam ser sempre mais engraçados e criativos que o oponente até o deixar sem resposta. Tudo a cantar. O meu homem diz que era o rap da altura, e era de facto muito parecido, mas em vez de rap, eram desgarradas ou desafios.
Bem, mas a Ti' Mariana disse-me que nunca mais se esqueceu de uma quadra da minha avó, que lhe saiu nessa desgarrada e que dizia assim:
"Tua mãe mandou-te à horta
tu não quisestes ir
encostaste o cu à porta
e puseste-te a ganir..."

Fartámo-nos de rir. Ainda estou a sorrir. A minha avó morreu há 22 anos. Esta memória terá mais de 60 anos, imaginam?!... A minha avó faz-me realmente muita falta e num evento com nome a rigor cai-me esta história no colo, vinda do nada e, parecendo que não, isto diz e traz-me muita coisa!

E agora vou continuar a desgarrar na minha cabeça:
"Tua mãe mandou-te à horta
tu não quisestes ir
encostaste o cu à porta
e puseste-te a ganir..."

:)

Dom, jeito ou que lhe queiram chamar

Passei muitos anos à procura do meu. Que havia de ter algum. Fiz de tudo para o perceber, cheguei a pensar ao contrário e fazer listas de não-dons com que nasci.
Concluí que não tenho aquele dom para:
- Cozinhar espetacularmente bem, que o diga o homem com os bifes ultra salgados de ontem e dois bolos enqueijados no fim-de-semana;
- Coser, bordar, fazer renda e malha, quanto mais patchwork. Consigo ser uma desenrascadinha mas não consigo dominar uma máquina de costura. Mais depressa um touro mecânico. Ontem à noite fiz 2 almofadinhas para o sofá da sala, nada de especial, cosidas á mão, uma perna de umas calças e metade de uma camisa. Ficaram fofas, serviram de terapia mas não são uma especialidade. Depois mostro.
- Pintura, escultura e as artes em geral, não se me sai assim nada empolgante  giro, numa mistura improvável de materiais e cores e formas... Embora tenhamos 2 quadros que pintámos a quatro mãos quando namorávamos e planeávamos a vida que estão no quarto e são lindos.
- Outras artes, profissões muito técnicas, sou demasiado emocional.
Há portanto todo um conjunto de dons que não tenho, não me correm nas veias, não os respiro, não me saem dos poros com relativa facilidade nem se materializam coisas espectaculares um passo à frente de as pensar.
Como disse, passei muito tempo meio angustiada sem perceber qual era o meu. O meu homem, que tem p'rái uns 20 dizia-me para sair da caixa e olhar as coisas de outra forma, por fora, numa perspectiva mais ampla.
Não sei ao certo quando percebi, sendo que estava e sempre esteve tão em mim. Descobri-o. Sei qual é. Sei especificamente qual a melhor forma de o usar, de trabalhar com ele e por ele. Tenho certo para mim, e sinto que é mesmo o dom que me iluminou quando nasci, ou antes, num jeito pré-definido, "faz-te à vida com isto, desenrasca-te", quando me despacharam para este mundo, esta vida.

O que mudou desde que descobri? Sei-o. Mas não sei bem o que fazer com ele. Por ele. Ou se calhar até sei, mas ando hesitante, insegura, cheia de medinhos, a precisar, talvez, de um par de estalos.

Pelo lado positivo, pelo menos já sei qual é. Acho eu, ahahahahahaahh!

Monopólio

Na semana passada quando o pai os foi deitar descobriram na prateleira um jogo do Monopólio Infantil, uma versão mesmo infantil com um senhor num carrinho que fala à medida que avança. Já não tinham algumas peças e jogaram pouco. O pai prometeu comprar um novo.
No dia seguinte comprámo-lo.
Bem... é um mundo novo. É um jogo tão giro, tão divertido, tão educativo, tão bom... Eu já não jogava há muitos, muitos anos. Já nem nos lembrávamos da maioria das regras... E os pins... ai os pins, tão feliz que não lhes tenham mudado a  forma.
Na véspera do feriado deitámo-nos bem, bem depois da meia noite, ao ponto de a Comissão de Protecção de Crianças não poder saber, que as crianças são pequenas. Mas não tinham sono, não vacilaram, loucas por pegar nos dados, avançar, facturar, comprar... Pelo meio há risos, negócios engraçados, comentários que provocam boas gargalhadas e eu conclui que este jogo foi a melhor compra do mês. Claro que o mais novo não quis saber que aquele miúdo tem hora certa para dormir mas os outros...
Agora, quando decidimos parar, fazemos listas com o que cada tem comprado, localização dos pins e, até, quem é o próximo a jogar. Já jogámos novamente e a evolução em relação ao tabuleiro da primeira noite foi enorme. Já tenho umas 6 casas. O pai até já tem um hotel e já lhe paguei uns 120 mil euros por parar lá... homens! :)
Este tabuleiro é o da primeira noite, quando tudo começou:

Aconselho vivamente, para fantásticos serões em família...

Páscoa na cozinha

Mentira que andei entre a mesa pascal da minha mãe e a da minha sogra. Mas sim, estive dois bocadinhos na cozinha, a fazer dois maravilhosos brioches pascais com doce de pasteleiro, já vos disse como é o meu? É muito, muito bom! Faz qualquer pessoa parecer uma mestre de culinária, variante doçaria.

Adorei fazer este doce/bolo. Além de fácil, é super divertido fazer as florinhas, o mais novo, do alto dos seus 4 anos, conseguiu esticar uma tira de massa com o rolo, colocar um pouco de creme no meio e enrolar. Quando viu a forma, parece uma rosa, ficou muito feliz.

Fiz dois destes, um para casa dos meus pais e outro para casa dos meus sogros e já desapareceram há muito. Ah! Na receita original dizia para colocar amêndoa ralada por cima. Como não tinha parti algumas amêndoa da páscoa com o martelo dos bifes e espalhei os bocadinhos por cima, daí ser um brioche pascal e não um brioche qualquer.

A Quaresma, a Família e o Perdão

Acabada de chegar da Cerimónia Lava-Pés, em que se recria a Última Ceia. Fui com a minha avó. Antes fui ao Lar ver o meu avô e levei-lhe amêndoas de chocolate. A minha avó nem ralhou comigo por causa do pormenor chocolate, porque estamos na Páscoa.
Ainda estamos na Quaresma que é este ano, imagine-se, dedicada ao tema "Família - Um Projecto de Deus".
Há tanta ironia nisto neste momento da minha vida que não podem imaginar. Ou então não há ironia nenhuma porque a minha é mesmo um Projecto de Deus.
Hoje faz 8 anos que morreu o Padre da minha vida, o Meu Padre, dos longos anos em que a Igreja fazia muito mais parte da minha vida. Gostava que ele estivesse vivo, ainda, para lhe dizer milhões de coisas, para partilhar tanta coisa na minha vida mas gostava, acima de tudo, de lhe dizer que Acredito mais agora do que antes naquilo que me transmitiu. Ouves-me? Sabes de tudo? Espero que sim?!
Hoje o meu primo faz anos. Ontem vi-o mas não lhe pude falar. O meu tio foi vê-lo na escola que frequenta. Só o deixaram entrar depois de um telefonema do advogado seguido de um pedido de desculpa da directora. Choraram. Não se viam há uma semana, quando tudo desmoronou mas, acredito, quando tudo entrou na linha, apesar de tudo o  que tem acontecido. Quando pode ver o filho o meu tio recebeu um telefonema da outra filha a descompo-lo, nem imaginam quanto. Nem o que ela lhe tem feito. Juro que não imaginam e eu não quero contar porque dói demais e traz muito rancor atrás. Na cerimónia Lava Pés, que é muito cheia de sentido tirei fotografias maravilhosas. Muito bonitas mesmo, tão diferentes de outras coisas que a minha alma sente. Na cerimónia, sentada ao lado da minha avó, vi a filha do meu tio de que falei acima comungar. Não fez sentido nenhum, especialmente quando, depois de a ver, a minha avó puxou um lenço para limpar os olhos. Sentido nenhum. Na homilia o Sr. Padre explicou às crianças que lá estavam porque vão fazer a 1.ª Comunhão que o egoísmo afasta as outras pessoas de nós. Uma das catequistas é, ironicamente, a filha acima descrita, a que prepara crianças para a 1.ª Comunhão e foi Comungar. Juro-vos que nada disto faz sentido. Nada. Ou então faz, ou há-de fazer. A Última Ceia é, afinal, um acontecimento cheio de sentido e significado, parecendo que não. Pedro não queria que Jesus lhe lavasse os pés por não se achar digno e depois negou-O 3 vezes mas foi perdoado. Com o fim da Quaresma o meu coração não consegue perdoar tanta coisa mas eu acredito que cada um de nós será julgado em lugar próprio. Decerto na própria vida. Eu acredito muito nisto. Juro. Porque quando saímos da Igreja a minha avó suspirou: "Deus ajuda os justos". E eu acredito nela, porque ela sabe que na Páscoa o chocolate não faz mal, porque devemos adoçar os nossos. Mesmo quando não podemos porque já morreram ou simplesmente não nos deixam. Desejamos-lhe sempre, sempre, o melhor. Parabéns meu querido!
No final da Cerimónia retiraram todas as flores e toalhas dos altares e a Igreja ficou desprovida de artifícios e isso, para mim, fez muito sentido!

Uma Páscoa Feliz! Comam amêndoas de chocolate! Muitas!

Humor de pai

O pai lá de casa viu o título do post anterior e perguntou-me se não deveria ser:
As minhas crias são mesmo de chorar por demais.

Ahaahahahahaahh
Têm dias, têm dias e horas!!!

As minhas crias são mesmo de chorar por mais

Ontem os mais velhos foram numa excursão ao Museu do Pão a Seia. Levaram lanchinhos e, para o mais novo, que ficou com a avó, preparei também um saquinho com lanche, que o deixou todo contente.
No final do dia, quando os mais velhos chegaram, traziam pastilhas e pão, pois claro. Um belo pão, por sinal.
O mais velho comprou 5 pastilhas, uma para cada um de nós e lá foi entregar a do mais novo, a jeito de "lembrei-me de ti". Tinham que ver a felicidade de quem ofereceu e de quem recebeu. Era só uma pastilha mas foi tão bonito. Mas o mais novo, em modo neto único também trazia a malinha recheada com coisinhas porcarias que a avó lhe comprou: saco de pastilhas, batatas fritas e cones de milho. Tinha tudo encetado mas comeu pouco pois também era para os irmãos. Foi tanta partilha e olhinhos a brilhar e abraços que fiquei a babar por se lembrarem uns dos outros e de guardarem para partilhar.
Foi mesmo bonito!

Tudo isto vem, finalmente, dar sentido à teoria de que entre vários irmãos há mais sentido de partilha. Por vezes desgastam-me com brigas de "isto é meu e não podes usar" ou o mais novo que tem uma ideia fixa que é tudo dele... Por vezes questiono se estamos a fazer tudo bem, até porque tentamos comprar por igual e se é algo para todos explicamos que sim, é para todos. Quando vejo algumas brigas fico triste mas ontem vi a luz. Hão-de estar a amadurecer, ou assim, não é?!!!!

Família

Parecendo que não, é uma palavra muito bonita. Das mais bonitas. A mais bonita.

Esta semana tem sido complicada para a minha, a que estava lá quando nasci. Mas em Família uma pessoa é antes de tudo um Ser Humano, é o sangue do nosso sangue, é o ser-se dos nossos.

Esta minha Família, a que já cá estava e me recebeu de braços abertos e coração cheio quando nasci não é muito grande mas é enorme no Querer e é minha há 35 anos. Será sempre.

Não me tem apetecido escrever, não tenho tido cabeça e sei agora o que é ter insónias. Mas gostava mesmo que cada um de nós, por um bocadinho, pensasse na Família, na que estava lá quando nascemos. Às vezes é tão adquirida que não pensamos nisso mas quando os nossos estão bem nós estamos melhor e quando estão mal, nós estamos lá. E quando ficarem melhor, seremos todos mais felizes. Sempre em Família.
É mesmo uma palavra bonita, não é?!!!

Recuperação...

O outro fim-de-semana, com 2 dias de Batizado passou sem se sentir aquele - ainda que breve - descanso próprio do fim-de-semana.
A semana passada foi passada em agonia, mais o roubo de uma hora e não se imagina o que foi levar aqueles 5 dias adiante, nem levantar 3 criaturas a quem aquela hora faz falta, ainda estão em reajustamento pois se acordavam às 7h30 agora o corpo manda acordar às 8h30. Não vos aconteceu? Os meus tardam em ajustar...
Na passada sexta-feira o mais velho fiz 8 Lindos Anos! Já sou Mãe há 8 anos e, como diz o Pai lá de casa "passaram a correr...".
Tirei o dia, na sexta-feira, não pelo aniversário mas porque tinha coisas a tratar nas Finanças... Fui de manhã e esperei... pela minha vez. Tratei uma situação em qualquer coisa como 1 hora. Para a outra situação tinha que ser outro funcionário mas estava com o pai no Hospital e só de tarde. De tarde lá fui eu e... o funcionário afinal ainda estava no Hospital... Sendo que não havia quem percebesse do que eu pretendia, só esta semana, "mas é telefonar antes de vir, sim?!!!"...
Mal saí de lá telefonema da escola que o filho do meio foi contra a porta da casa-de-banho, queixas no braço e chora e não se cala. Fui buscá-lo. Afinal são as miúdas do 4.º ano que vão espreitar o wc dos meninos e quando ele vinha a sair elas atiraram com a  porta e o meu rapaz ficou com a testa, o braço e as costelas a doer... Pode-se com isto?!!!
Uns mimos e a promessa de cartas da colecção e lá melhorou. Fomos comprar a prenda do mais velho e fomos buscar os outros 2 à escola. Às 4 da tarde, uma molha descomunal em cima, quer dizer, em baixo, as calças molhadas até aos joelhos... fomos para casa e tudo entrou nos eixos. Fizemos o bolo de anos do mais velho.
Sábado foi a festa de aniversário e entre as 3 e as 7 da tarde foi perceber as interacções, laços sociais, relações interpessoais de cerca de 20 fedelhos de 8 anos e posso dizer-vos que é um mundo novo e uma pessoas ainda não está preparada para isto...
Domingo dormi mais que a conta e foi bom, almoço nos sogros e depois enfrentei um fantasma de mais de 2 semanas que já me causava insónias: muita, MUITA roupa para passar a ferro. Ontem, das 16 às 23 horas, com pausa de 2 horas para banhos e jantar despachei aquele monstro que invadia o sofá grande da sala. Despachei-o e saiu-me um peso de cima.
Agora só precisava de uma bocadinho para recuperar mas, bolas, vou passar a tarde nas Finanças.... oxalá haja bancos vazios para descansar enquanto espero...

Finalmente... as fotos!

Tudo começou com a madrinha a vestir a fofa. O resultado final foi este:

Sendo que o Sr. Padre chegou qualquer coisinha como meia hora atrasado, aproveitámos para tirar foto de família+1, vejam como era giro ter um bebé...

Na Igreja a pequena, que já entrou sem sapatos... andou na vidinha dela:

Claro que a madrinha começou logo o papel no apoio de Educar! Atentem no dedo da madrinha, os meus filhos conhecem-no muito bem!..

O bolo foi também de autoria da madrinha, com o pouco jeito que tem... Era composto por 6 bolos já que a minha irmã convidou qualquer coisa como 100 pessoas... Nem imagino o que vai ser o casamento da miúda...

Destaque nesta foto, em que vou fazer a Oração do Fiéis, para a Santa que sai de mim, é que nota-se mesmo. Muito bem captada, esta foto! Ahahahahah


E foi isto, mais coisa menos coisa. Foi um dia giro. Bom. Com momentos de alguma... não sei se diga tristeza, mas este ano faltaram-nos algumas pessoas e custou que não estivessem lá. Falo do meu tio Zé, claro, e da melhor amiga da minha irmã, melhor mesmo, eram como irmãs, que morreu este ano porque não apareceu um fígado a tempo... Foram muito sentidas estas faltas, como outras, de pessoas nossas que não vieram por motivos que nem queiram saber. Mas veio o meu avô, que está tão mal, que na véspera foi parar ao Hospital, um sufoco, nem imaginam, de onde os meus pais vieram com ele à 1 da manhã, mas veio. O meu avô ficou doente com Parkinson quando conheci o outro Homem da minha vida. O R. ainda o conheceu bem, mas aquele corpo pequeno e tão activo toda a vida vai parando... parando... A cabeça, essa, não para e a ida ao Hospital deverá ter sido a emoção do Batizado... Um lamechas, o meu querido avô!