Questionar

Não fui educada para questionar. Talvez porque também não venha de uma família com grande história revolucionária, mais de trabalhadora-acomodada.
O não questionar é exactamente uma característica de se ser acomodado, de soltar um "é assim, mas podia ser pior", um encolher os ombros e não reclamar.

Apercebi-me muito disto depois de casar. Primeiro porque o meu marido aponta o que não gosta, questiona, pensa nas situações, vê as várias perspectivas. Quando me falava de uma situação que não gostava eu, de início, ficava muito ofendida, por vezes defensiva. Quando eu argumentava que também havia isto ou aquilo de que eu não gostava ele respondia que eu só tinha que o dizer, que falar, para chegarmos a consenso.
Outro dia já comentou que estou melhor neste campo, vá lá! Há esperança! :)
Apesar de os opostos se complementarem, há muitas coisas que foram, e vão, sendo ajustadas e que nos permitem viver melhor a dois.

Estou entretanto numa formação em que um dos módulos é Igualdade de Género. Dou por mim a ver exemplos de mulheres fantásticas que, um século ou mais ante de mim, questionaram, lutaram, procuraram os seus direitos.
Para quem até tem uma licenciatura em Sociologia no reputado ISCTE, há todo um novo mundo que se abre para mim. (Gralha, vias-me nas aulas, não vias? Eu tenho a certeza que estava lá quando estudámos estas temáticas...).
A vida de mulheres como Carolina Beatriz Ângelo são tão inspiradoras... Sendo viúva e vendo que a primeira lei eleitoral da República Portuguesa reconhecia o direito de votar aos «cidadãos portugueses com mais de 21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família», assumiu-se como chefe de família, que era, e conseguiu ir votar. Claro que a Lei foi alterada no ano seguinte, mas ela questionou os do seu tempo e conseguiu agitar a sociedade.
Esta força, este procurar a sua firmação, os seus direitos... é impressionante.

Claro que nasci com muitos direitos assegurados mas.... há tanto o que questionar... Tenho mesmo que pensar nisto...

2 comentários:

  1. Pois há, minha querida, pois há. É um exercício perigoso, que nos desinstala, mas também é para isso que Deus nos deu neurónios, não é?

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  2. Já eu... não me calo! Já cheguei a ouvir dizer que eu tenho "alma de sindicalista"... confesso é que com a idade, passei a ser mais polida e até um tanto mais cínica. O que não significa que não questione, que não ponha em causa, que não estrebuche quando discordo!

    Costumo dizer muitas vezes que teria sido profundamente infeliz se tivesse nascido há 40 ou 50 anos atrás!

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