Sentimentos, por crianças...

Esta semana a minha sobrinha, 2 anos de gente ficou com a minha mãe. A minha irmã e cunhado estiveram em Coimbra onde ele fez mais uma intervenção no IPO.
A minha sobrinha está muito habituada a estar com a minha mãe. Mas está muito, muitoooooo mais habituada à mãe dela. Como a minha irmã não está a trabalhar passam juntas 24h/dia. Temia-se o pior....
A semana até passou bem, nunca chorou pelos pais, perguntava por eles mas compreendia que estavam a trabalhar, que era o que a minha mãe dizia. Volta e meia a minha mãe encontrava-a sentada, olhar fixo em nada, com os seus pensamentos, indesvendáveis para nós, por muito que possamos tentar adivinhar em quem pensava.
Para a animar fomos lá a casa todos os dias e, inclusivamente os meus filhos dormiram lá esta noite. Sim, os meus pais ficaram com os 4 netos sendo a casa com mais crianças por m2 aqui e nos arredores.
Hoje, ao almoço, ouviram a porta a abrir e ela foi espreitar. Quando viu os pais, conta a minha mãe, soltou um suspiro enorme, mas mesmo lá do fundo, sem explicação. Contemplou-os e suspirou, longa e profundamente. Depois fugiu em sentido contrário, louca, para voltar a correr na direcção deles. Agarrou-os e encheu-os de beijos e nunca mais os largou, histérica.
Isto tudo para dizer que não sei, mas adorava saber, o grau de sofrimento que teve, se teve.
A ansiedade que sentiu, se sentiu.
Se sentiu abandono.
Se pensou que tinham simplesmente desaparecido.
Se, se, se...
O que terá pensado?
Não faço ideia mas tenho imensa curiosidade.
Tal como os caminhos do Senhor, são insondáveis os pensamentos das crianças, especialmente nesta idade. Embora, mesmo quando já comunicam perfeitamente connosco continuem a ser um enigma. Nunca sabemos o que pensam exactamente e, se não o expressarem, podem sofrer ou estar magoados com alguma coisa que não sabemos... Tentamos ser atentos mas pode sempre escapar alguma coisa. E pode ficar lá, a magoar, a moer, a criar raízes, a crescer, a criar trauma... Ok, talvez exagere. Mas há coisas que ficam sempre.

Só para terem noção eu tenho a imagem nítida como um filme em HD a passar à minha frente de uma vez em que o meu pai me ralhou logo depois de nascer a minha irmão. Eu já tinha 4 anos mas lembro-me de estar a "brincar" com ela, do tom de medo que a magoasse do meu pai, a exigir cuidados com a bebé e a ordenar-me que fosse para o meu quarto. Lembro-me da dor. E lembro-me de depois ele ter ido ter comigo, falar com mais calma, fazer-me cócegas e explicar a fragilidade de um bebé. Penso que foi aí que percebei que havia espaço para as duas.
Talvez se não estivesse atento (ou a minha mãe não o tivesse mandado reparar danos, acredito) eu hoje ainda tivesse só a 1.ª parte da memória. E um trauma enorme. E um ódio profundo pela minha irmã. Podia até ser uma drogada, ahahaahahahaahahahahaahh

Fora de brincadeiras, estar atento é tão importante quanto difícil. Como, no fundo, tudo aquilo que representa o mundo fantástico da parentalidade. Um desafio constante!

4 comentários:

  1. Tadinha! Imagino o que terá passado pela sua cabeça! Espero que esteja tudo bem com o teu cunhado. Beijinhos

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  2. Sim Célia, tudo bem com todos. Neste momento a minha irmã não consegue ir à casa-de-senho sem a ter ao colo... :)

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  3. Já se notam os efeitos do curso. Parabéns ao formador e à formanda.

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  4. Infelizmente há coisas que por mais que se tente evitar o trauma não se consegue... o que podemos tentar fazer é minimizar o "estrago", com muito amor e muito carinho!

    As melhoras rápidas!

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