Oca, anestesiada, aérea, algo do género...

Foi como passei o dia.
Ontem fui ao funeral do meu tio-avô Artur e senti, uma vez mais, que o cancro deixa nas famílias este quase alívio de "pelo menos já não sofre". Ver a minha avó a dar beijinhos, muitos muitos beijinhos ao irmão morto no caixão, os últimos beijnhos que lhe deu, que as filhas e netos lhe deram... aquele adeus para sempre, o último... é realmente devastador. É uma certeza tão grande e tão forte. O lembrar-me constantemente da neta dele, minha prima, que tinha o mesmo nome que eu porque o pai gostou do meu e pensar que ela já morreu há 22 anos e o golpe que foi e como aquela família se aguentou... E ver o irmão que tinha 15 dias quando ela morreu e a outra irmã que tinha 4... e vê-los ali a dizer adeus ao avô e isto dá-nos um bocadinho cabo da alma... e ter a certeza de que todos se lembraram da Vera, do morte da Vera e que todos hão-de partilhar comigo esta esperança de que sim, de que agora o avô está ao pé da Vera. O avô que nunca mais me tratou pelo meu nome, passei a ser a Menina, nunca mais fui Vera ali porque a Vera deles morreu atropelada à porta de casa e foi tão estúpido e devastador... eu espero mesmo que o avô Artur tenha voltado a encontrar a sua Vera, sabem? O que eu quero que isso seja real...

Hoje logo de manhã a notícia, estranha, inesperada, da separação de uma colega. A certeza de que ninguém, mas MESMO ninguém sabe, imagina, o que se passa nas outras casas... e nada é o que parece e parece que é tudo tão diferente do que se pensa, ou imagina...

E com isto tudo anda uma nuvem em cima de mim, uma sensação estranha...

Por outro lado descobri que a minha avó anda farta da pouca capacidade de bateria do telemóvel, irrita-se constantemente com o toque da falta de bateria e fecha o telemóvel no quarto dos fundos só para não o ouvir(sim, sim, era mais fácil po-lo a carregar, mas ela enerva-se). E trata-o por cabrão exactamente porque lhe dá cabo dos nervos.

Dedicada ao meu tio Artur, Blue Eyes mas mesmo cor de céu limpo:



3 comentários:

  1. A perda de alguém que amamos é sempre dificil, dolorosa. Resta-nos sempre o conforto de saber que eles estão melhores que nós... ao menos já não sofrem...

    Pois... na minha família a morte da Vera (minha mãe) é sempre motivo para olhares cabisbaixos...

    Muita força para todos! Beijinhos e um abraço apertado

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  2. Um grande abraço, minha querida. Hoje anestesiada, amanhã de novo a agarrar a vida com a alegria que te é espontânea, sim?

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  3. Puxa, pelos vistos não está a ser um dia fácil. Muitos beijinhos

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